quarta-feira, 30 de março de 2011

Obstáculo para remover obstáculos


Os objetos de uso são criados para ter uma utilidade. A utilidade é essencial para nos ajudar a transpor obstáculos aos quais estamos sujeitos, mas como objetos criados por pessoas para outras pessoas estes se tornam mediações entre essas duas partes. Para Flusser o design deve ser responsável a fim de permitir uma liberdade na aplicação da utilidade de tais objetos, baseado na premissa de que eles, por serem objetos (e sendo uma característica inerente a estes), se tornarão obstáculos.


O lixo entra como símbolo-mor desse conceito, tal que é o despojo de tudo aquilo que não mais tem utilidade e que agora é um problema, e não só para aquelas populações que têm contato direto com ele.


Outro exemplo é o espaço do Distrito Federal, que engloba além de Brasília outras 29 Regiões Administrativas. Cidade planejada na década de 1950, era a suposta solução de todos os problemas no que tange a habitação (ponto nodal da arquitetura modernista), transporte e a realocação do governo, mas hoje, após 50 anos vemos problemas que não foram delineados pela caneta de seu projetista: as vias estruturais abarrotadas com os mais de 1,2 milhão de veículos e os altíssimos alugueis nas Superquadras obrigam a classe trabalhadora a viver em cidades-satélite distante às vezes 30 km de onde trabalham, e, aliando-se um transporte coletivo caro e ineficiente, obtemos um espaço urbano altamente segregado, o que certamente não era intenção do arquiteto.


O que a arquitetura, o design deve fazer então? Talvez propor intervenções de caráter mais flexível, de forma a permitir o diálogo entre o usuário e o designer ou, como sugere Argan "reduzir a arquitetura ao grau modesto de prestação técnica". O certo é que há esperança de que toda essa problematização seja levada em conta na hora do projeto de algum bem tão quanto há no que concerne a relação da forma e da função, e que o arquiteto (ou qualquer outro projetista) não queira outorgar um fim em todos os problemas do mundo. Ou não.

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